31 de maio de 2014

sobre militância


não deslegitimo o direito de vocês de acharem minha militância um saco. eu sei que vocês preferem viver suas vidas, transar e ser felizes a problematizar, entender e desconstruir opressões.

eu sei, porque, sempre que compartilho ou escrevo algo minimamente relacionado a militância, recebo backlash via comentário, inbox, direct message, mention, sms, telegrama e inúmeras indiretas em todas as redes sociais possíveis e imagináveis sobre o quanto eu sou chato por isso. mas vocês sabem de uma coisa?



enquanto vocês podem fechar a aba do navegador no meio de uma discussão, meu melhor amigo, negro, vai continuar sendo olhado torto na rua e vai continuar sendo visto pela polícia como bandido em potencial.

enquanto vocês podem me dar unfriend, minha melhor amiga, trans, vai continuar tendo que aguentar gente desconhecida perguntando sobre sua genitália e tendo que mendigar todo dia para que a chamem pelo seu nome.

enquanto vocês podem cancelar meu feed de notícias, minha irmã, mulher, vai continuar não podendo transar com quem quiser sem ser chamada de "puta", nem podendo andar 200m sozinha, da parada de ônibus até a porta de casa, por medo de ser estuprada.

enquanto vocês podem me deletar das suas vidas, eu, que sou gay, vou continuar não podendo andar na rua à noite sem medo de apanhar e vou continuar não falando com meu pai, porque ele já disse com todas as letras que tem vergonha de um filho que dá a bunda.

...

enquanto vocês, privilegiados de alguma forma, podem fechar os olhos pra tudo que acontece, pessoas continuam sofrendo todo tipo de violência simbólica e física, todos os dias, só por existir. vocês podem fechar os olhos, mas pessoas continuam morrendo. isso, sim, é chato.

vocês não sucederão em me silenciar.

Um comentário:

  1. O que posso dizer sobre isso? Sinceramente eu não sei bem ao certo. Sei dizer sobre o que eu sinto. Prefiro ser chata a omissa. Não me importa quantas pessoas irão me virar a cara porque sou feminista e, como alguns dizem, gayzista, ambientalista e contra toda forma de opressão. Não me interessa ter no meu círculo de amizade gente que se sente no direito discriminar/ofender a quem quer que seja. Mas enfim, a militância é necessária sim, do contrário essa cultura machista, sexista, androcêntrica e focada no homem branco permanecerá inabalada.

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